GUARDAR O PASSADO — OU A DOENÇA (CRÓNICA) DE NÃO PERDER O QUE FOI.
- Mafalda Belmonte
- 2 de jul. de 2016
- 3 min de leitura

Não sei quanto a quem está desse lado do computador, mas eu ainda tenho disquetes destas guardadas. Para quê? Não sei. Penso sempre que estão ali guardadas algumas das coisas mais importantes da minha vida, o que escrevi, o que me escreveram ou fotografias que não guardei em nenhuma outra parte. Francamente, não faço ideia, do que lá está. Mas também, ocupam apenas uma caixa quadrada de um palmo por um palmo por isso não tem grande importância.
Isto acontece também com os CDs, onde guardo ainda mais informação, como por exemplo as telenovelas, escrevi e quem sabe, um dia posso vir a querer ler as dez mil páginas que as compõem, outra vez. Não estou a exagerar, cada episódio tem entre 50 a 60 páginas por isso se a telenovela tem 200 episódios, façam-lhe as contas. Os CDs ocupam uma gaveta e meia de 50 por 50cm.
E os cadernos, aqueles com que andamos dentro da carteira e onde apontamos tudo? É que eu não sou da geração da agenda electrónica e ainda gosto de escrever com caneta, em papel, os números de telefone do empreiteiro que a Marta acabou de me dar, o que tenho que fazer amanhã sem falta, as ideias que me vão surgindo para escrever estes textos. Está enorme quantidade de informação escrita naqueles cadernos de que posso, um dia, precisar! Ocupam duas gavetas, bem arrumados.
Também guardo coisas como restos de fio elétrico que comprei para arranjar um candeeiro, alicates ferrugentos e uma imensa quantidade de agrafes há pelo menos quinze anos, uma vez que raramente uso um agrafador. Mas quando preciso, naquelas raríssimas vezes em que preciso, tenho, certo?
Tenho igualmente uma gaveta reservada para sacos de papel de várias lojas e restos de papéis de embrulho, a maior parte do Natal, que chegam normalmente ao Natal seguinte, mas que não uso porque gosto de embrulhar com papel igual, todos os presentes. Se alguém não se importar de usar papéis diferentes eu forneço.
Se ficássemos por aqui, por guardar apenas este tipo de coisas, não era mau. O problema são coisas bem maiores de que não consigo desfazer-me. Não vou falar em material de cozinha e serviços de jantar porque tenho vergonha.
Mas posso falar de roupa embora não haja necessidade de me alongar sobre este problema, porque todas as mulheres o percebem — sejam ou não avós, mas principalmente estas porque acumularam mais coisas, durante mais anos. Só dizer que os meus inúmeros casacões – uma peça de roupa que eu adoro — preenchem grande parte do meu armário minúsculo. Que calças que não me servem há pelo menos oito anos, mas que, quem sabe... com uma dietazinha... lá estão penduradas. Que tenho botas imponíveis cujo bico está e estará para sempre revirado para cima porque eu tenho o tendão de Aquiles curto e ando em bicos dos pés. E sapatos que não há a menor hipótese de voltarem a estar na moda...
E os livros!!! Os que gostei, aqueles que nem por isso, os que não fui capaz de passar do segundo capítulo, os que adorei e que releio de tempos a tempos, os que adorei e tenciono reler um dia destes, aqueles enormes que raramente se abrem e só servem para decorar as mesas de apoio da sala, mesas que, a propósito, eu não tenho...
A minha casa, o meu guarda-fatos, os meus armários, as minhas estantes, estão cheios que nem um ovo.
Alguém se revê neste cenário? Por favor não me digam que sou só eu!
E... há algum psicólogo por aí?
Urgente, porque um destes dias, meto a chave à porta e das duas uma: ou não consigo entrar porque já não caibo, ou o meu marido me abandona!
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