PÓ DE NÃO

Deve ser das coisas mais difíceis de fazer: dizer não.

Há que tempos que ando a pensar no assunto — na verdade, desde que os meus filhos começaram a ter idade para dizerem não — e chego sempre à mesma conclusão: dizemos não porque não queremos magoar a pessoa a quem o dizemos, que é como quem diz que temos medo que ela deixe de gostar de nós por lhe dizermos não.

A questão é que ao dizermos sim, estamos muitas vezes a dizer não a nós próprios e a fazer o que não queremos fazer.

Tem toda a razão, dirá o leitor que claro, concorda absolutamente comigo, a partir de hoje, se não quiser fazer alguma coisa, vou dizer não!

Com ponto de exclamação!

O problema é que dizer não exige treino. Um treino intensivo, diário e até ao fim das nossas vidas. Eu não sou psicóloga, mas armo-me imensas vezes numa - e das boas - e se me perguntassem como é que se treina para dizer não, eu diria que tem que se começar por dizer não a coisas pequenas. Que não têm importância. Como ir às compras com uma amiga e ela escolher uma peça de roupa que nós odiamos e perguntar-nos se gostamos. Podemos dizer que não. Porque é que ela se há-de ofender? Ou quando a nossa filha que nos convida para jantar em cima da hora e a última coisa que nos apetece é sair do quentinho da nossa casa. Podemos explicar-lhe simplesmente que "não me apetece sair do quentinho neste momento." Ela não vai ficar chateada com certeza.

Se nada do que fizer, se o seu treino demorar a resultar, tem um produto espectacular que eu descobri na net: Pó de Não. Basta polvilharmos um bocadinho por cima da nossa cabeça e ombros e aí estamos nós, a ser capazes de dizer não ao que realmente queremos, sem qualquer problema. Um "dom" que vamos querer transmitir aos nossos netos,certo? Mas, atenção, este é um pó raro e nem sempre está disponível no seu fornecedor habitual, por isso vá fazendo uma reserva na sua dispensa e quando estiver com eles, polvilhe-os com parcimónia para que, eles vão aprendendo e, ao crescerem consigam dizer não àquilo que, quem sabe, lhes pode virar a vida do avesso.