AFINAL PARA QUE SERVEM OS NETOS?
- Mafalda Belmonte
- 19 de jul. de 2016
- 4 min de leitura
1 — PARA NOS OBRIGAR A FAZER EXERCÍCIO FÍSICO: E que atire a primeira pedra, a avó que consegue estar sentada a ver a sua série/telenovela preferida com um ou muitos netos!
Não, não consegue! Vai ter que se levantar para evitar que ele caia, baixar-se para apanhar o que ele deixou cair, pôr-se de rabo para o ar a tentar chegar ao brinquedo que ele atirou para baixo do sofá e que curiosamente, agora é o único que quer, correr para que ele, que já gatinha, não enfie os dedos nos buracos das fichas elétricas, montar cadeirinhas para as mais diversas funções desde as que servem para lhes dar de comer, às do carro que têm que ser presas duma maneira XPTO — nunca evidente — com os cintos de segurança, passando pelas de ir passear no parque (outro exercício físico).


Ou partir para o Jardim Zoológico — por exemplo — ao fim de cuja volta nós estamos estafadas e eles prontos para outra, ou ensinar-lhes a jogar à macaca, ou sujar a cozinha de alto a baixo para fazer bolos com ele/s e no fim, chorar de frustração porque ainda falta limpar tudo ... querem mais?
Portanto estamos conversados e de acordo quanto à primeira função dos netos: obrigar-nos a fazer exercício físico!

2 — PARA NOS OBRIGAR A DESENVOLVER A IMAGINAÇÃO: porque nós, apesar de não termos aqueles nós, achamos que esta coisa deles estarem o dia inteiro, desde mais ou menos os dois anos, com o nariz enfiado num ecrã, seja ele qual for, não pode fazer-lhes bem. Por isso queremos à viva força inventar jogos e brincadeiras que os entretenham. Não é fácil porque como somos adultos, gostamos de complicar. No Verão sempre há a praia onde — lá está — o exercício físico é inevitável, mas onde também teremos que estar prevenidas para a imaginação deles: o António, neto da Avó Margarida, com cinco anos, estava sossegadíssimo a atirar pedrinhas pequenas, do tamanho duma unha, juro, eu estava lá e vi, para a sua frente. A certa altura atirou uma, com um nadinha de nada de mais força na direcção duma senhora — estrangeira ainda por cima — no exacto momento em que ela acordava da sua sesta e levantava a cabeça. Conclusão: cinco pontos na testa da dita e se não pagas ainda te ponho um processo em cima!
Ok, não tem que ser tudo tão dramático. Este Inverno a Avó Kikas, uma avó muito criativa, pegou numa cartolina, desenhou uma cozinha e pôs as netas uma tarde inteira a recortar duma revista, pacotes de manteiga para o frigorifico, pratos para os armários, talheres para as gavetas e mais houvesse. As miúdas adoraram.
Um jogo como a caça ao tesouro que há umas semana propus às mais ousadas, requer imaginação e paciência –paciência, outra virtude que os nossos netos nos ensinam já que os nossos filhos, na maior parte dos casos, não conseguiram. – mas eles acham francamente divertido. E mesmo um jogo da Glória com um objectivo — ganhar o lugar ao lado da Avó ao jantar — os pode entreter bastante tempo. Até porque basicamente, eles nunca viram um jogo de tabuleiro.
3 – PARA NOS ENSINAREM AS NOVAS TECNOLOGIAS: Já sei, acabei de dizer que eles passam o tempo com o nariz enfiado num ecrã qualquer, mas já que não os podemos vencer a tempo inteiro, podemos juntar-nos a eles em part-time. Ao contrário dos nossos filhos que não têm a menor pachorra para nos ensinar sequer como se abre um computador, os nossos netos acham a maior graça e divertem-se realmente a ensinar-nos a mexer no Istagram e a tentar explicar-nos para que servem os hastags — no fim chegamos à conclusão que hastag quer dizer cardinal.

Para eles, que, em vez duma cruz ou dum santinho, nasceram com um ecrã pendurado no berço, alguém como a própria avó não perceber que Ctrl-C e Ctrl V é copiar e colar, é motivo de troça mas também de alguma superioridade: então eu, que ainda só tenho 3 anos já sei jogar ao super-mário e a minha avó com... cem anos ainda nem sequer...? E rebolam-se literalmente a rir. Suponho que no Jardim infantil escola comparem a evolução das respectivas avós...
Mas o que é um facto, é que se sabemos alguma coisa sobre o nosso actual companheiro de farra, o Facebook, aos nossos netos o devemos!
4 – PARA NOS AJUDAREM A EVITAR A DEMÊNCIA SENIL: É verdade. um estudo recente apresentado por Jonathan LaPook, especialista em Alzheimer e demência, sugere que cuidar dos netos é uma atividade que poderá prevenir a deterioração cognitiva e o aparecimento de Alzheimer e demência. Lá está. Obrigam os nossos processos mentais a reactivarem-se e a trabalharem. E, após tudo o que foi dito nas alíneas acima, não há como duvidar que os nossos neurónios trabalham e bem, com netos por perto!
5 –PARA CORRIGIRMOS – E REDIMIRMO-NOS – OS incontáveis, inevitáveis e "obrigatórios" ERROS QUE invariavelmente FIZEMOS COM OS nossos FILHOS. Nada a acrescentar.
Se ousar dizer mais uma palavra sobre este item, estrago tudo!
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