AVÓS DE ONTEM, AVÓS DE HOJE
- Mafalda Belmonte
- 28 de out. de 2016
- 3 min de leitura

Provavelmente porque não havia muitas tintas, ou cores de tintas, a maioria das nossas avós tinha o cabelo entre o branco, o branco e cinzento e, uma cor que me fascinava, um branco com laivos de violeta, cor proveniente de um mistério guardado pelos cabeleireiros da época e que ainda hoje não desvendei.
Provavelmente porque éramos crianças e as nossas avós eram tão mais velhas que nós, sempre as vimos como velhinhas frágeis que qualquer rabanada de vento era capaz de as fazer levantar voo. Aliás não é preciso muito para, quando crianças, acharmos que qualquer pessoa com mais de… qualquer coisa como 30 anos, é velha. Pelo menos os meus filhos achavam! Um dia perguntei-lhes, tinham eles uns seis e cinco anos, se achavam que eu, uma estupenda com 35 anos, era velha. Eles hesitaram, olharam para mim como se nunca me tivessem visto antes e acabaram por se decidir: sim, sem qualquer dúvida, eu era velha. E isto apesar de não ter um cabelo branco que eu sou da raça que só tem cabelos brancos aos cinquenta e poupa uma data de dinheiro no cabeleireiro!
A fragilidade das nossas avós “de ontem" é, digo eu, apenas uma ideia. Lembro-me das minhas duas avós a andarem dum lado para o outro a fazer ou a mandar fazer, com uma energia pelo menos tão grande como a que me cabe a mim, hoje em dia.
A minha avó Ana bateu natas até se transformarem em manteiga até aos oitenta anos, a minha avó Manuela percorria os corredores infindáveis da casa onde vivia, subia e descia as escadas que levavam da copa para a cozinha, do hall para os quartos lá de baixo, do terraço para o jardim, não se sabe quantas vezes por dia, arrastava-nos para a Baixa para lhe fazermos companhia nas compras e andava mais depressa do que qualquer de nós.
Por isso, pensando bem, quando hoje dizemos que somos umas avós muito mais jovens que as nossas próprias avós, tenho algumas dúvidas.
A principal diferença de que nos falam para sustentar esta teoria, é o facto de hoje em dia trabalharmos - de sermos “profissionais”, se bem que para mim tem a ver também com a maneira como nos vestimos.
Também tem a ver com a velocidade. A velocidade com que vamos de e para algum sítio, com que o jantar fica feito, basta descongelarmos qualquer coisa, com que obtemos informação… mesmo a velocidade com que lavamos e secamos a cabeça nos cabeleireiros, já repararam?
Pergunto-me se esta “rush” em que vivemos compensa. As nossas avós, tinham tempo para tudo. Não eram obrigadas a ser e ter uma série de papéis sociais ao mesmo tempo. Eram apenas donas de casa que tinham sido mães e agora eram avós. Que - outra falácia - não ficavam obrigatoriamente com os netos, pela simples razão que as nossas mães, também eram donas de casa e portanto não precisavam de babysitters.
Onde a situação mudou foi na nossa geração.
Foi na nossa geração que a maior parte de nós se viu obrigada a trabalhar para ajudar no sustento das nossas casas… Por isso tivemos que nos organizar para criar os nossos filhos com a ajuda das nossas mães, que, essas sim, muitas vezes por obrigação, se viram a braços com os netos. Mas também foi também na nossa geração que começam a surgir as creches os jardins infantis e ATLs, sem os quais, hoje,não passa pela cabeça de ninguém que tem filhos, viver. São estas instituições as verdadeiras babysitters dos nossos filhos (e a televisão, claro), e netos. Não nós, as avós de hoje.
Nós apenas mudámos a maneira como nos relacionamos com os nossos netos. E a televisão, claro.
Mas também já tínhamos mudámos a maneira como nos relacionámos com os nossos filhos, ou não?
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